terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Às margens da usina de Tucuruí, 12 mil famílias vivem sem energia


07/01/2013 - 05h15

Às margens da usina de Tucuruí, 12 mil famílias vivem sem energia



AGUIRRE TALENTO
ENVIADO ESPECIAL A TUCURUÍ (PA)

Do quintal de casa, em um terreno à beira do lago da hidrelétrica de Tucuruí (525 km de Belém), a agricultora Maria Assunção, 74, vê as luzes do centro da cidade a quilômetros de distância, sob a iluminação de uma lamparina.
No escuro, Assunção inveja a eletricidade: mesmo com a usina tão perto, a luz não chega até sua casa.
Quase 30 anos após a inauguração de Tucuruí, maior hidrelétrica situada 100% em território brasileiro, cerca de 12 mil famílias que vivem no entorno do reservatório ou nas 1.600 ilhas do lago não têm acesso à rede elétrica, segundo a prefeitura.
Tarso Sarraf/Folhapress
Maria Assunção, 74, com a lamparina que usa à noite em sua casa, às margens do lago da maior hidrelétrica 100% em território nacional, Tucuruí (PA)
Maria Assunção, 74, com a lamparina que usa à noite em sua casa, às margens da usina de Tucuruí, no Pará
As raízes do problema remontam à construção da usina, iniciada em 1975. A área do lago foi sendo ocupada irregularmente na década de 1980 por famílias expulsas pela construção da usina e por novos moradores que chegavam à região.
A eletricidade foi se estabelecendo na zona urbana de Tucuruí e, apesar de pleitos dos moradores, não chegou às ilhas, de moradias sem documentação e de custo alto para implantação da rede.

Famílias sem luz elétrica

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Tarso Sarraf/Folhapress
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Passados 30 anos da inauguração da hidrelétrica do Tucuruí, Francisco dos Anjos Lopes, 58, morador do acampamento João Canuto, ainda vive sem energia elétrica
Diante dos anos de espera, alguns instalaram geradores por conta própria.
O terreno de 2.875 quilômetros quadrados (o equivalente a dois municípios de São Paulo) era ocupado por agricultores antes de ser inundado para formar o reservatório usado para gerar energia.
As famílias foram indenizadas e realocadas. "Elas viviam perto do rio, que usavam para locomoção e pesca, e foram jogadas a 300 km de distância, onde havia praga de mosquitos. Não quiseram ficar e voltaram", disse o prefeito Sancler Ferreira (PPS).
Foi o que aconteceu com Assunção. Insatisfeita, resolveu voltar. "Um dos moradores bebeu a água de lá, ficou com muita coceira e morreu. Ninguém quis mais ficar."
As partes mais altas formaram essas 1.600 ilhas, ocupadas pelos ex-moradores e por novos habitantes. Nenhum possui título de terra, já que a área é da Eletronorte, empresa do governo federal.
Levar eletricidade às ilhas é promessa recorrente em campanhas eleitorais, jamais cumprida até hoje.
Para a promotora Crystina Morikawa, de Tucuruí, a usina ainda acumula passivo ambiental porque foi concebida em um período em que o direito ambiental era pouco desenvolvido e as exigências para licenciar grandes obras eram menores.
Mesmo tendo sido sede de uma das maiores obras do governo militar, Tucuruí ainda carece de infraestrutura.
Além do problema da luz, ruas e rodovias estão esburacadas e sem asfalto. Segundo a prefeitura, não há rede de esgoto na cidade. Dados do Censo 2010 mostram que 28% dos 97 mil moradores de Tucuruí vivem em favelas.