sábado, 13 de outubro de 2012

"Cidades no Futuro: o ser humano em primeiro plano"

1/Outubro/2012

São Paulo pode perder competitividade, acredita arquiteta dinamarquesa


Helle Søholt, do escritório Gehl Architects, alerta que problema de mobilidade pode culminar na fuga de empresas e de pessoas e faz algumas recomendações para a cidade







Luciana Tamaki, da revista AU





A arquiteta dinamarquesa Helle Søholt, sócia-fundadora e CEO do escritório Gehl Architects, alerta que o problema de mobilidade na cidade de São Paulo pode trazer perda de competitividade, culminando em perdas econômicas e fuga de pessoas. Helle participou da quinta edição do Aula São Paulo, evento promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano e pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), na última quinta-feira (27).



Carsten Nedom Madsen/Shutterstock
A rua Nyhavn, em Copenhague, Dinamarca, é um exemplo de ocupação pelas pessoas após se tornar exclusivamente de pedestres


Durante a palestra "Cidades no Futuro: o ser humano em primeiro plano", a arquiteta urbanista mostrou sua preocupação com o futuro da cidade e do País. "Esta cidade vai ser engolida pelo tráfego e vai morrer no tráfego. Empresas se mudarão para outras cidades, pessoas se mudarão, se puderem", alertou a CEO. A consequência seria a perda de competitividade para outras cidades que consigam se tornar mais prósperas e viáveis.
Embora São Paulo seja, ainda, a principal cidade para investimentos, o desenvolvimento econômico pode sair daqui. "Isso seria perigoso não só para São Paulo como para todo o País. São Paulo gera 11% do PIB de todo o País, então, toda oportunidade de trabalho que se cria aqui tem um impacto enorme no resto das cidades brasileiras", conclui.
É preciso escolher agora qual o paradigma que deve ser implementado. "Aqui [no Brasil], se está copiando um modelo norte-americano de planejamento e o mundo está começando a ver o final deste modelo", ressaltou a arquiteta.
O escritório de Helle tem casos bem-sucedidos de planejamento urbano, como Copenhague, cidade famosa por apresentar 35% dos trajetos em bicicleta, além de Melbourne e Nova York - especificamente a rua Broadway e a Times Square. Lá, com medidas como separar as ruas das passagens de pedestres e praças com pintura no chão, os acidentes diminuíram em 63%; a presença de pedestres na pista de rolamento diminuiu em 80%; e até mesmo a velocidade média dos carros aumentou em 17%, tudo em dois anos.
O fundamental, em qualquer caso, é que as pessoas estejam no centro das mudanças, defende Helle Søholt. Para o caso da cidade de São Paulo, a CEO faz três recomendações que seriam fundamentais para mudanças:



a) planejamento regional ao "nível do olho"
"Ouço uma tendência, em resposta a tudo que digo - como mobilidade - que isso não seria tão importante, pois aqui há muitas questões urgentes como pobreza, crescimento econômico, saúde, saneamento... todas essas questões são de fato muito maiores. Mas é preciso conectar todas as grandes questões no 'nível do olho', onde as pessoas se sentem seguras e confortáveis para usá-las. É preciso fazer o planejamento regional neste 'nível do olho'."




b) unir pensamentos e ações
"Há um departamento de planejamento que planeja, um departamento de tráfego que lida com tráfego, um departamento de parques e áreas verdes que lida com árvores... e segrega-se tudo nas cidades. Mas o espaço público é onde todas essas questões se unem. É preciso trabalhar junto, com comunicação, workshops, envolver os cidadãos."




c) melhores práticas e aplicação do conhecimento
"O Brasil tem dinheiro, know-how, conhecimento. É preciso aplicar este conhecimento e criar exemplos de melhores práticas no Brasil, de forma que aqui se faça de modo diferente. São Paulo é a principal cidade do Brasil. O Brasil inteiro olha para o que se faz aqui. Se vocês fizerem espaços maravilhosos, podem criar um movimento sobre a forma de se pensar em todo o Brasil. Esta é sua realidade, e sua oportunidade. É possível colocar as pessoas no centro do planejamento. É possível criar cidades mais atrativas, seguras, que incluam a todos, cidades que promovam a vivência saudável e sustentável. Todas essas questões também somam ao crescimento econômico das cidades."


Sobre a afirmação de que os espaços públicos são um luxo, que Helle costuma ouvir, ela rebate dizendo que eles são uma necessidade: "são como uma cola na sociedade". Veja abaixo os principais temas abordados pela arquiteta em sua palestra e na coletiva de imprensa que se seguiu.



Elementos de convencimento
"Não vejo uma cidade mudar sem um bom líder", diz. Para convencimento de figuras do poder público, segundo ela, é preciso levantar muitos dados ("hard core data") que provem, garantidamente, os benefícios da mudança de paradigma.


Para esse levantamento e análise de dados, o escritório costuma contar com auxílio de universidades, entre professores e alunos. Na cidade do México, foram cerca de 40 pessoas; em Nova York, 80. Além de professores e universitários, também é importante agentes de diversos departamentos da Prefeitura, que doem uma hora por dia por semana para mensuração de pedestres, por exemplo.



BRT
Embora seja uma boa solução, a arquiteta critica que em São Paulo não há, ainda, boa conexão com os bairros: "não há calçadas em certos trechos nem infraestrutura para bicicletas. É difícil chegar até as estações". Os projetos de infraestrutura não são suficientes por si só; eles devem vir acompanhados com soluções que o integrem a cada bairro.




Centro esvaziado
A arquiteta mostrou o exemplo de Melbourne, cujo centro, assim como São Paulo, era esvaziado. Ela chama de "cidade Donut", com um vazio no meio e um entorno repleto. Nessa cidade, as mudanças ainda estão ocorrendo, e não só no centro, como também nesse anel sufocado.


Helle defende o espaço público como parte da solução: "Os empregos devem estar onde estão as pessoas, os bairros devem ter escolas, bibliotecas, lojas, deve-se aumentar a quantidade de espaços públicos e sua conectividade com esses lugares. Paralelamente, tornar o centro viável para morar".



Legado da Copa e Olimpíadas
Os jogos que serão sediados no Brasil podem deixar um legado fantástico para o país. A arquiteta cita os bons exemplos de Barcelona (Olimpíadas 1992) e de Londres e a reconstrução de sua "Zona Leste" para as Olimpíadas deste ano.


Não é, porém, o que a CEO viu no Rio de Janeiro. A vila olímpica, aponta ela, está desconectada da cidade, segregada, com foco nos automóveis, sem conexões para bicicletas ou pedestres. É como se tudo tivesse sido feito tão rápido, que simplesmente repetiu o modelo antigo.



Cidades médias
Cidades médias têm um potencial fantástico por seu tamanho. Nas cidades grandes os problemas aumentam em escala, são mais complexos. Os desafios são os mesmos que nas grandes cidades, como a cultura de priorizar os carros, tirar as pessoas da pobreza. "Tantas pessoas querem seu carro para se sentirem pertencentes à classe média. É preciso mudar essas prioridades, olhar para a liberdade individual e qualidade de vida de modos diferentes, não se focar nos carros como único modo de transporte", defende Helle.


Outra vantagem das cidades médias é que, por seu tamanho, e pelo tamanho dos governos municipais, seria mais fácil conectar a liderança política com a sociedade civil. Em cidades maiores, há mais distância entre os agentes que tomam decisões e as comunidades locais.
Para Helle, as cidades médias podem liderar as grandes cidades, mostrando o caminho das mudanças de paradigma.





http://www.youtube.com/watch?v=jxgXLM0znYQ

Enviado por  em 28/12/2009








Matéria muito interessante que mostra a situação caótica do transito da cidade de São Paulo, e possíveis soluções para o futuro.


Enviado por  em 05/01/2010