quarta-feira, 18 de julho de 2012

Precisamos de mais parques!


16/07/2012 - 20h16

Transformação verde de Nova York é exemplo a ser seguido



FRANK BRUNI
DO "NEW YORK TIMES"

Sempre que você duvidar que o futuro possa ser melhor que o passado ou que o governo possa exercer um papel crucial nesse processo, pense e alegre-se com o extraordinário processo de verdeio de Nova York.
Esta cidade não se parece em nada, nada mesmo, com o que era uma década e meia atrás. É um lugar de calçadões agora belíssimos de frente para o mar, de árvores, gramíneas altas e flores que ocupam terrenos e penínsulas de concreto --até mesmo trechos de trilhas férreas antes em desuso ou decadentes. Trata-se de uma resposta fértil ao pessimismo de nossa era, de uma prova verdejante de que o crescimento continua a ser possível, pelo menos desde que estejam presentes a vontade necessária e as estratégias corretas.
A transformação de Nova York se deu incrementalmente --um ano o High Line, outro ano o Brooklyn Bridge Park--, tanto que muitas vezes não chega a ser plenamente apreciada. Mas representa um avanço notável, que justifica esperança.
Além disso, é emblemática de um padrão de dedicação intensificada aos parques urbanos, algo que está presente de costa a costa dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que uma parte tão grande da vida americana neste momento é marcada pelo espectro do declínio, muitas cidades estão florescendo, e Nova York vem servindo de inspiração crucial.
"Nova York representa um grande exemplo, porque é a maior área urbana do país", disse Ken Salazar, o secretário do Interior americano, falando ao telefone na sexta-feira e sugerindo que, se Nova York consegue criar espaços verdes em meio às suas expansões cinzentas, qualquer cidade pode fazer o mesmo. Salazar pretende visitar Nova York na terça-feira para discursar numa conferência internacional, que já está ocorrendo, intitulada "Maiores e Mais Verdes: Reimaginando Parques para Cidades do Século 21".
O fato de a conferência ser realizada em Nova York é uma homenagem proposital aos avanços feitos por esta cidade, boa parte deles sob a administração Bloomberg, que levou adiante os planos que herdou, ampliando alguns deles, e também criou vários planos próprios.
Embora o prefeito Michael Bloomberg tenha enfrentado fracassos e falhas diversas em suas tentativas de aprimorar o ensino público e aliviar os congestionamentos no Midtown de Manhattan, por exemplo, em se tratando do verde ele vem tendo grandes êxitos. Um dos maiores legados de sua longa prefeitura será uma cidade que, em determinados locais encantados, em determinados dias encantados, pode passar uma impressão tão descontraída, despreocupada e abençoada pela natureza quando um dos enclaves ecologicamente vaidosos do noroeste do Pacífico. À agitação do trânsito, Bloomberg acrescentou mais ciclovias, mais árvores e mirantes com vistas belíssimas.
"Os parques foram prioridades para este prefeito e para a vice-prefeita, Patti Harris, e acho que é a primeira vez que isso acontece na história da cidade", comentou Adrian Benepe, que vai deixar em breve o cargo de comissário de parques da prefeitura Bloomberg, após dez anos.
"Grandes coisas aconteceram na prefeitura de La Guardia, em grande medida devido à Administração do Progresso de Obras e da habilidade de Robert Moses em fazer uso desses recursos. Mas acho que o prefeito atual tem sido singular por não apenas apreciar parques, como compreender o valor deles de tantas maneiras diferentes", disse Benepe, acrescentando que Bloomberg adere "à ideia de que a cidade pode e deve ser bela e bem projetada".
Eu desprezaria esses comentários como puro puxa-saquismo, não fosse por vários fatores. Um: Benepe não hesita em dizer que parte do trabalho pelo qual Bloomberg é elogiado foi iniciado por prefeitos anteriores e defendido especialmente por George Pataki, fervoroso partidário dos parques, na época em que foi governador do Estado.
Dois: os elogios que Benepe faz a Bloomberg são repetidos por muitas pessoas que não estão na prefeitura.
Três: seus elogios condizem com minhas próprias observações gratas. Vivo nesta cidade, de modo intermitente, há 25 anos, e nunca antes senti tanta vontade de sair para o ar livre, nem me senti tão recompensado quando o faço quanto me sinto hoje.

Hoje uma parte espantosa da área de Manhattan de frente para os rios Hudson e East é pontilhada de píeres verdejantes, com praias, ciclovias e trilhas para caminhadas. E, para quem ainda não o viu, Brooklyn Bridge Park é uma revelação, com vista para o centro de Manhattan, o porto de Nova York e a Estátua da Liberdade.
"É notável que a cidade tenha feito esse investimento", comentou o paisagista Michael Van Valkenburgh, cuja firma foi responsável por criar o parque, que custou mais de US$350 milhões. A prefeitura contribuiu com quase dois terços desse valor. "Existe no momento um interesse enorme e muita atividade na criação e recriação de parques urbanos. Acho que é porque reinvestimos na ideia de viver nas cidades."
Igualmente animadora e instrutiva é a maneira como Nova York buscou os recursos necessários para os parques novos e os já existentes. A High Line, construída principalmente com recursos públicos, é mantida principalmente com recursos privados. O plano para o Brooklyn Bridge Park é que sua operação e manutenção seja paga por avaliações dos imóveis desenvolvidos em torno do parque.
Em troca do alvará de construção, os construtores de novos imóveis residenciais nas redondezas tiveram que criar para a cidade o Riverside Park South, uma trança bela de praças de frente para a água, trilhas e píeres partindo das ruas West 60s em Manhattan. Esse arranjo foi muito anterior à administração Bloomberg, mas, sob a administração dele, um arranjo semelhante vai resultar num parque de frente para a água em Williamsburg, um bairro do Brooklyn.
O histórico de Bloomberg no quesito dos parques não é imaculado. Holly M. Leicht, diretora executiva do grupo Nova-Iorquinos em Favor de Parques, disse que a criação de novos parques nem sempre foi acompanhada pela manutenção adequada dos parques já existentes. "Há uma disparidade de condições", disse ela.
Mas, para seu crédito, a prefeitura vem gastando fartamente com parques em todos os distritos de Nova York, não apenas em Manhattan e Brooklyn. Um dos projetos mais ambiciosos é a conversão do aterro sanitário Fresh Kills, em Staten Island, no parque Freshkills, que será quase três vezes maior que o Central Park.
A história de Nova York se repete em outras partes do país.

Um complexo revitalizado de parques, o Myriad Botanical Gardens, surgiu recentemente no centro de Oklahoma City. No centro de Houston há o Discovery Green. Dallas está construindo um parque sobre uma via elevada no centro, e Los Angeles estuda maneiras de verdejar um velho leito de rio concretado.
"Vivemos na era da reurbanização", comentou Catherine Nagel, diretora executiva da Aliança de Parques da Cidade, que está promovendo a conferência em Nova York. E o aumento da densidade demográfica significa que "precisamos de espaço verde".
Surpreendentemente, estamos recebendo esses espaços: porque os cidadãos o reivindicaram; porque os governos priorizaram esse assunto; porque foram cultivadas parcerias público-privadas. Nova York é a flor bela a coroar esse processo.
Tradução de CLARA ALLAIN

Energia... no seu bolso!


18/07/2012 - 06h30

Energia "oculta" em bens triplica o gasto de brasileiro com luz


AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO


Para cada R$ 100 pagos na conta de luz, o consumidor brasileiro gasta, sem saber, outros R$ 200 com energia.
Esse é o custo da eletricidade que vem embutido no preço dos serviços utilizados e dos bens consumidos.
O cálculo foi feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas), no primeiro estudo brasileiro a medir o peso da energia contida em itens como carros, imóveis, batedeiras ou salões de cabeleireiros.
A Fipe usou uma metodologia desenvolvida pela União Europeia, chamada WIOD (World Input-Output Database).
Segundo o trabalho da fundação, a conta de luz representa apenas 32% de todo o custo de energia elétrica pago por uma família.
A maior parte (53%) está embutida nos preços de mercadorias e serviços contratados pelos consumidores. Os outros 15% estão incluídos nos preços de serviços públicos, como o transporte.
O trabalho da Fipe mostra que, para cada real pago na fatura de energia, o consumidor desembolsa outro R$ 1,68 para custear a energia escondida nos bens. No cálculo, a fundação usou o perfil de consumo da Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE.

CLASSE C PREJUDICADA
Fernando Garcia de Freitas, um dos formuladores do trabalho, diz que a mudança de padrão de consumo das classes emergentes traz escondida um alto custo de energia. "Quando um consumidor troca a cachaça pela cerveja em lata de alumínio, está aumentando o consumo indireto de energia. É assim que a energia cara penaliza a nova classe de consumo."
O estudo foi patrocinado pelo Projeto Energia Competitiva, que reúne a associação de grandes consumidores e órgãos de defesa do consumidor, com o objetivo de levantar informações para convencer governo e Congresso a desonerar a eletricidade.
Entre os segmentos que participam do projeto estão as indústrias química, vidreira, de aço, de alumínio, de cloro e de ferro-liga.
Embora esses setores sejam grandes consumidores diretos de energia, há outros em que o peso indireto é muito grande (veja arte abaixo).
No caso da indústria de construção, por exemplo, para cada R$ 100 de conta de luz, outros R$ 4.690 são pagos indiretamente no custo dos materiais usados.

MAIS CRESCIMENTO
O estudo também calculou os efeitos na economia brasileira da desoneração total (extinguir todos os encargos para consumidores industriais, comerciais e residenciais) e da parcial (em que só os consumidores industriais seriam beneficiados).
De acordo com Freitas, a desoneração total resultaria em aumento de R$ 181 bilhões no consumo, em até dez anos. Desse total, R$ 70 bilhões estariam nas mãos das famílias.
A simulação feita pela Fipe projeta um PIB 5,7% maior do que o atual (R$ 236 bilhões a mais), uma oferta de 4,5 milhões de empregos, uma exportação R$ 10,4 bilhões maior e uma capacidade adicional de investimento de R$ 53,2 bilhões.
Outros impactos positivos, como a queda da inflação, aconteceriam imediatamente após a queda do custo.
Editoria de Arte/Folhapress