segunda-feira, 16 de julho de 2012

Projeto Cidade Inteligente Búzios


Projeto entra na lista dos dez mais inovadores do mundo em infraestrutura urbana

O relatório mostra como projetos pioneiros podem fazer diferença e contribui para o surgimento das cidades do futuro


Alana Gandra / Agência Brasil 15/07/2012 14:54


Foto: Divulgação
Projeto pioneiro pode tornar cidades mais sustentáveis
Projeto pioneiro pode tornar cidades mais sustentáveis
Rio de Janeiro – Um projeto brasileiro da área de energia está entre os dez melhores projetos de infraestrutura urbana inovadores, que podem tornar as cidades habitáveis e sustentáveis. Os projetos constam de uma lista incluída no relatório global Infraestrutura 100: Cidades Mundiais, apresentado pela empresa de consultoria internacional KPMG na Cúpula das Cidades do Mundo, em Cingapura, no início deste mês.
O relatório mostra como projetos pioneiros na área da infraestrutura podem fazer diferença, contribuindo para o surgimento das chamadas cidades do futuro, locais onde as pessoas querem morar e trabalhar. O Brasil aparece com dez entre os 100 projetos selecionados, metade das iniciativas apresentadas pela América do Sul.
Considerado um dos dez mais relevantes do mundo, o projeto Cidade Inteligente Búzios foi incluído na categoria infraestrutura de energia urbana e, de acordo com a publicação, responde a um dos maiores desafios do século 21, que é o desenvolvimento da infraestrutura urbana sustentável.
Os outros projetos inspiradores listados no relatório são os de Acesso pelo Lado Leste, da cidade de Nova York, na categoria mobilidade urbana; Corredor Industrial Delhi-Mumbai, na Índia, em conectividade global; Desenvolvimento Regional de Oresund, Dinamarca e Suécia, sobre recuperação urbana; Universidade Princess Nora Bint AbdulRahman para Mulheres, de Riad, capital da Arábia Saudita, que trata de educação; Royal London Hospital, de Londres, sobre saúde; Planta de Dessalinização Tuas II, de Cingapura, relativo à água; Cidade Ecológica de Tianjin, Tianjin, da China, sobre cidades novas e ampliadas; Sistema de Esgoto em Túneis Profundos, de Kranji para Changi, de Cingapura, que trata de reciclagem e gerenciamento de resíduos; e Projeto de Cabo do Briocs, da África do Sul e Ilhas Maurício, sobre infraestrutura de comunicações.
Segundo a diretora da KPMG no Brasil, Iêda Novais, a questão da sustentabilidade foi determinante na escolha dos melhores projetos mundiais de infraestrutura urbana, que são modelos para serem copiados em outras cidades e regiões. “O fundamental é trazer projetos que ajudem os países a ter boas práticas. Ter um modelo.” Para ela, muitas vezes, o que falta às cidades é uma metodologia que possa ser adotada localmente, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), com financiamentos diversos. "Esses projetos podem criar uma nova fronteira, em termos de gestão das cidades”.
Esta foi a segunda edição do relatório sobre infraestrutura nas cidades mundiais. Na primeira, divulgada no ano passado, o Brasil entrou com seis projetos – um deles, o do trem de alta velocidade, que ligará os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, apareceu também entre as dez principais iniciativas globais. De acordo com Iêda, a edição deste ano incluiu projetos "mais encorpados" do Brasil, alguns vinculados a megaeventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Iêda diz que acordos como o que foi firmado em junho entre as 20 maiores cidades do mundo durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, é que vão determinar a adoção de práticas sustentáveis no mundo. “Esse tipo de acordo é que vai fazer com que a questão da sustentabilidade nas grandes cidades venha a tomar forma, a partir de agora, para atender às exigências futuras das populações."
Para ela, tais práticas determinarão o surgimento de novas “fronteiras” entre cidades, regiões e países, que ultrapassarão a questão geográfica. “As cidades vão competir entre si economicamente e na geração de empregos. As cidades sustentáveis têm melhor clima para atrair investimentos e oferecer mais qualidade de vida às pessoas.”  De acordo com Iêda, o objetivo de todos os projetos selecionados é gerar benefícios para as populações. Os países que têm práticas de infraestrutura mais desenvolvidas foram selecionados em todas as  regiões do mundo.
Os demais projetos brasileiros selecionados na publicação deste ano foram a modernização do Hospital do Subúrbio e o Projeto Integrado de Gestão de Água e Saúde, na Bahia; o Centro de Operações Rio da IBM, o corredor de transporte coletivo Transolímpica, o Porto Maravilha, e o Parque Olímpico, todos no Rio de Janeiro; a primeira parceria público-privada (PPP) do país para a construção e operação de escolas, em Belo Horizonte; a Linha 4 do Metrô de São Paulo; e o Embraport, maior terminal privado multiuso do Brasil, no Porto de Santos, em São Paulo.

Para acompanhar o clima, cientista faz carreira cercado de gelo e urgência


Para acompanhar o clima, cientista faz carreira cercado de gelo e urgência

Lonnie Thompson, um dos primeiros cientistas a registrar o derretimento de uma geleira por causa do aquecimento global,  negligenciou sua própria saúde em busca de sua ciência

The New York Times |







Andrew Spear for The New York Times
Paleoclimatologista Lonnie G. Thompson foi um dos cientistas a descobrir o aquecimento global

Um certo dia em 1991, no alto dos Andes peruanos, Lonnie G. Thompson viu que o maior cume de gelo tropical do mundo estava começando a derreter. Foi neste momento que ele percebeu que o trabalho de sua vida de repente havia se tornado uma corrida.
A descoberta indicava que outros cumes provavelmente começariam a derreter e que as possíveis informações que continham sobre o clima do passado poderiam desaparecer antes que os cientistas tivessem a oportunidade de aprender com elas.
Impulsionado por uma sensação de urgência ao longo dos 20 anos que se seguiram, ele conquistou uma série de realizações nunca vistas anteriormente na ciência moderna. Ele liderou equipes para algumas das regiões mais altas e remotas da terra para recuperar amostras de gelo em extinção.
Então, em outubro, a corrida contra o relógio tornou-se uma jornada bastante pessoal.
Thompson acordou em um quarto do hospital em Columbus e olhou para baixo. "Haviam fios saindo do meu peito", disse.


Máquinas haviam sido ligadas nele para mantê-lo vivo. A longo prazo, os médicos lhe disseram que somente um transplante de coração faria com que ele ficasse completamente saudável novamente.
Thompson, 63, é um dos mais proeminentes da geração de cientistas que, nas últimas décadas do século 20, descobriram o problema do aquecimento global. Agora os cientistas nesta área de estudo estão começando a envelhecer e muitos deles dizem estão tendo dificuldade em lidar com a questão de como é difícil estar sempre desafiando seus próprios limites.
Será que mais uma descoberta ou mais uma expedição poderia ajudar a mudar a consciência do público geral?
Thompson se tornou um dos primeiros cientistas a testemunhar e registrar uma dos maiores cumes de gelo da Terra derretendo. E os seus núcleos de gelo - longos cilindros de gelo - revelaram que este derretimento repentino nunca havia ocorrido antes, pelo menos não nos últimos milhares de anos.


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Para alguns cientistas do clima, o registro do núcleo de gelo de Thompson se tornou o conjunto de evidências mais convincente de que o rápido aquecimento planetário era resultado de um aumento dos gases contribuintes para o efeito estufa.
"A razão pela qual o material de Lonnie é tão poderoso é que é bastante simples", disse Daniel P. Schrag, geoquímico de Harvard e diretor do Centro para o Meio Ambiente.
"Sua prova rejeita a ideia de que isso é algum tipo de ciclo que acontece a cada 300 ou 500 anos, que é o que os céticos normalmente dizem. E nós dizemos: "Não, porque o gelo de Lonnie não derreteu antes. Ele está derretendo agora."
Colegas afirmam que Thompson negligenciou sua própria saúde em busca de sua ciência. Agora, na maior parte do tempo confinado em seu escritório e sua casa em Columbus, ele disse que começou a apreciar a clareza que sua circunstância lhe proporciona.
"Eu não desejo isso a ninguém, mas não é de todo ruim", disse ele. "Realmente o obriga a sentar e pensar sobre o que é que você está fazendo e porque está fazendo isso, e como você está usando seu tempo."

Atraído pelos Trópicos
Criado em uma fazenda perto de Gassaway, West Virgínia, Lonnie Gene Thompson chegou ao Estado de Ohio com a ideia de se tornar um geólogo de carvão, mas o gelo logo o seduziu.

Como estudante de pós-graduação em busca de um doutorado em geologia, ele trabalhou analisando a poeira em núcleos de gelo retirados da Antártica, e descobriu que características químicas e físicas minúsculas poderiam ser utilizadas para deduzir o clima do passado.
Colaborando com John Mercer, um cientista especialista na Terra em uma universidade famosa por seus estudos de geologia glacial na América Latina, Lonnie Thompson foi atraído para o gelo tropical.
A equipe da Universidade Estadual de Ohio decidiu se concentrar no poderoso Quelccaya, nos Andes do Peru, o maior cume de gelo tropical do planeta, suspeitando que ele renderia um registro preciso do clima. Mas a ideia de perfuração encontrou uma recepção fria de alguns dos cientistas do clima mais eminentes naquela época. A noção predominante na década de 1970 era de que os trópicos eram climatologicamente chatos e que a maioria das grandes oscilações no clima da Terra havia acontecido mais perto dos pólos.
Além disso, nos trópicos, "ninguém achava que haveria gelo muito velho", lembrou Wallace S. Broecker, da Universidade Columbia, atual principal paleoclimatologista dos Estados Unidos. (Aos 80 anos, Broecker está entre os cientistas do clima que trabalham muito além da sua idade de aposentadoria.)
Em 1974, com US$7.000 da Fundção Nacional de Ciência, Mercer e Thompson lideraram uma equipe de pesquisa no Quelccaya, em uma planície vulcânica 18.000 pés acima do nível do mar. Eles confirmaram que camadas anuais de pó parcialmente sazonais podiam ser vistas no gelo.
Após uma série de tentativas frustradas de perfurar o gelo, incluindo uma envolvendo um helicóptero, Thompson recorreu a mulas, cavalos e burros para montar uma expedição em 1983, que perfurou completamente através de 537 metros de gelo com uma broca de energia solar.
Na época, ele não conseguia encontrar uma maneira de transportar o gelo congelado, para que as camadas foram pesquisadas. Então elas foram partidas e derretidas em milhares de garrafas de plástico que foram transportados de volta para Columbus, para análise química.
Os resultados foram surpreendentes. O registro do gelo chegou a 1.500 anos antes e registrou oscilações enormes no clima da região - intensos períodos de seca alternando com períodos úmidos. Grandes lagos surgiram e sumiram nos vales abaixo, a poeira de suas secas até camas deixando marcas químicas no gelo. O registro também mostrou mudanças na química da água semelhantes aquelas observadas nos pólos, levando Thompson a inferir grandes variações de temperatura nos trópicos.
Nos anos seguintes, Thompson perfurou em outros locais na América do Sul, recuperando gelo de até 25.000 anos e confirmando os padrões observados em Quelccaya. Seus resultados, juntamente com registros colhidos por outros cientistas no fundo do mar, agitou o campo da paleoclimatologia.

Uma série de desafios
Ao final dos anos 1980, a preocupação com o aquecimento global estava aumentando, e alguns cientistas acreditavam que as calotas polares e geleiras dos trópicos seriam as primeiras a mostrar seus efeitos.

Em uma viagem de retorno a Quelccaya em 1991, Thompson notou substancial derretimento nas bordas do cume de gelo. Testes laboratoriais confirmaram que os sinais registrados anualmente na química do gelo estavam se tornando turvos.
Ele acelerou o ritmo com sua equipe, que estava entre os primeiros cientistas ocidentais permitidos a analisar os cumes de locais como a China, recuperando gelo que pode ter até 750.000 anos. Ele perfurou várias outras vezes no planalto tibetano, no Ártico russo, no Alasca, no topo do Monte Kilimanjaro, na Tanzânia, na Nova Guiné, nos Alpes.
Mas a carreira de Thompson não foi inteiramente livre de controvérsia.
Alguns cientistas têm desafiado a análise de Thompson dos sinais em núcleos de gelo, dizendo que as mudanças químicas que ele interpreta como variações de temperatura provavelmente refletem uma mistura mais complexa de mudanças na precipitação, temperatura e padrões de circulação atmosférica. Mathias Vuille, um cientista atmosférico da Universidade Estadual de Albany, que admira as realizações de Thompson, disse que suas análises sobre este ponto "são difíceis de conciliar com outras evidências."
"Sua hora ainda não chegou"
Quando jovem, Thompson mantinha a forma correndo maratonas. Ele agora percebe que sua saúde começou um lento declínio em algum momento de seus 40 anos de idade.
No outono passado, ele chegou a um ponto em que ele mal podia andar. Ele acabou no hospital, alternando entre consciência e inconsciência por dias à medida que o seu coração fracassava em mantê-lo vivo. Mais de uma vez, sua esposa e sua filha, Regina, foram informadas de que ele não conseguiria sobreviver mais noite.
Foi em um de seus períodos em coma, ele acredita, que teve o sonho. Ele disse que saltitava pelo espaço e pousou em um belo local cheio de flores e riachos. Lá, ele disse, uma figura vestida de branco falou com ele.
"Sua hora ainda não chegou", a figura disse ele. "Você tem outra finalidade."
Thompson não é um homem particularmente religioso, e ele não tenta explicar o sonho, mas a sua memória dele é vivida.
O equipamento movido a bateria implantado em seu peito o ajudou a melhorar e a deixar o hospital, enquanto esperava na lista de transplante de órgãos. Na primavera, ele havia retomado um horário de trabalho limitado, colaborando em pesquisadas de colegas localizados ao redor do mundo.
Thompson sabe que precisa ir devagar, mas ele já está de olho num cume de gelo inexplorado na China.
No ano passado, ele entrou em contato com alguns de seus conhecidos na Rússia e pediu para que um astronauta na Estação Espacial Internacional fotografasse um cume de gelo específico. Uma equipe chinesa já foi verificar o local e confirmou que a perfuração de um núcleo parece ser possível, caso ele se recupere o suficiente para enfrentar uma nova expedição.
Outras pessoas provavelmente poderiam fazê-lo sem ele, mas ele não quer nem saber de ficar de fora desse possível experimento.
"Eu vou voltar à ativa", disse ele com um sorriso. "Eu estou à procura do gelo mais antigo do planeta.”

Amazônia deve sofrer grande extinção de espécies até 2050


Pesquisa avalia o impacto local promovido pela perda de vegetação em 30 anos e aponta que ainda há tempo para agir

13 de julho de 2012 | 3h 05


GIOVANA GIRARDI - O Estado de S.Paulo
As piores consequências do desmatamento sofrido pela Amazônia ao longo de 30 anos ainda estão por vir. Até 2050, poderão ocorrer de 80% a 90% das extinções de espécies de mamíferos, aves e anfíbios esperadas nos locais onde já foi perdida a vegetação. A boa notícia é que temos tempo para agir e evitar que elas de fato desapareçam. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada na edição desta semana da revista Science.
Um trio de pesquisadores da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos considerou as taxas de desmate na região de 1978 a 2008 e levou em conta a relação entre espécies e área - se o hábitat diminui, é de se esperar que o total de espécies que ali vivem diminua, ao menos localmente.
Acontece que os animais têm mobilidade, podem migrar para locais vizinhos ao degradado. Lá vão tentar sobreviver, competindo por recursos com animais que já estavam no local, de modo que o desaparecimento não é imediato, podendo levar décadas para se concretizar.
É essa diferença que os pesquisadores chamam de "débito de extinção", que foi calculado no trabalho. Grosso modo, é uma dívida que teria de ser "paga" - em espécies animais - pelo desmatamento do passado. A ideia por trás do termo é tanto mostrar o que poderia acontecer se simplesmente o processo de extinção seguisse o seu rumo, quanto estimar qual pode ser o destino dessas espécies que dependem da floresta, considerando outros cenários de ações.
Mas em vez de calcular para toda a Amazônia - o que seria problemático, porque há uma diferença de riqueza de biodiversidade no bioma -, os autores mapearam os nove Estados em quadros de 50 quilômetros quadrados, a fim de estimar os impactos locais. Uma espécie pode deixar de ocorrer em uma dada área, mas isso não significa que ela desapareceu por completo.
Tanto que a literatura ainda não aponta a extinção de nenhuma espécie na Amazônia, explica o ecólogo Robert Ewers, do Imperial College, de Londres, que liderou o estudo. "Uma razão para isso é que o desmatamento se concentrou no sul e no leste na Amazônia, enquanto a mais alta diversidade de espécies se encontra no oeste da região. Mas não há dúvida de que muitas estão localmente extintas onde o desmatamento foi mais pesado."
Na pior hipótese, a do "business as usual", considera-se a continuidade do modelo da expansão da agricultura; na melhor, que o desmatamento zere até 2020. Os pesquisadores propõem, no entanto, que o cenário mais realista é o que considera a permanência da governança, ou seja, das ações governamentais que levaram à queda do desmatamento nos últimos anos.
Mas, mesmo nessa situação, é de se esperar que espécies sumam. Em 2050, os pesquisadores estimam que localmente (nos quadros de 50 km²) podem desaparecer de 6 a 12 espécies de mamíferos, aves e anfíbios em média; enquanto de 12 a 19 podem entrar na conta do que pode ser extinto nos anos seguintes.
Eles reforçam que isso ainda não ocorreu e defendem que ações que aumentem as unidades de conservação e promovam a restauração de áreas degradadas têm potencial de evitar o danos. Os mapas mostram em quais áreas esse esforço poderia promover mais benefícios.
Em outro artigo na Science que comenta o trabalho, Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás, pondera que a conjuntura atual é incerta. "O governo vai investir pesado em infraestrutura, estão previstas 22 hidrelétricas de grande porte, estão sendo reduzidas as unidades de conservação e o Código Florestal vai ficar mais frouxo. A trajetória dos dez anos que passaram dava uma sinalização otimista, mas são os próximos dez anos que vão dizer o que vai acontecer."