quinta-feira, 12 de abril de 2012

Transformar área de risco de favela paulistana em um ambiente de respiro em meio ao caos

Marcos Boldarini transforma área de risco de favela paulistana em um ambiente de respiro em meio ao caos
Conhecido pelo recente projeto de urbanização na área da favela Cantinho do Céu, o escritório de Marcos Boldarini se deparou novamente com uma difícil tarefa: transformar uma área de risco na favela Nova Jaguaré em um ambiente de respiro no meio do caos

http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/217/olhar-para-dentro-boldarini-arquitetura-e-urbanismo-sao-paulo-255697-1.asp

Por Ursula Troncoso Fotos Daniel Ducci





Boldarini Arquitetura e Urbanismo . São Paulo, SP . 2010/2012


Não se pode mais fingir que as favelas não existem. A solução é investir em melhorias. A partir dessa ideia, a Secretaria de Habitação de São Paulo (Sehab) organizou o programa de urbanização de favelas, que prevê novas moradias, infraestrutura e obras de contenção, drenagem e proteção de áreas de risco.
Dentro desse programa está o projeto na favela Nova Jaguaré. No princípio do projeto, a reurbanização do local, situado próximo à Marginal Pinheiros, previa a construção de moradias. O plano, porém, mostrou-se inviável pela declividade do terreno, que chega a 35 m de desnível. Sorte dos moradores, que ganharam um lugar de lazer, esporte e respiro no meio de um espaço tão densamente construído.
Dentro de uma área de intervenção urbana de 15 mil m², o projeto com áreas de lazer e espaço público foi pensado para ser implantado no interior de uma quadra de 100 m x 150 m, justamente onde acontece a queda do terreno. Portanto, a praça faz a conexão entre os dois níveis do quarteirão e, consequentemente, faz a conexão do bairro. "O projeto foi refeito até conseguirmos equacionar o tratamento de uma área de risco com um programa de lazer e esportes", explica o arquiteto Marcos Boldarini.
O acesso central da praça, uma passarela entre dois conjuntos habitacionais do antigo programa Cingapura, não estava no primeiro projeto. "Foi legal a conversa com o poder público, porque conseguimos abrir essa entrada que não existia", diz Boldarini.
Para isso foram realizadas duas matrículas onde antes havia uma no conjunto do Cingapura, o que possibilitou a criação de um acesso público pelo meio do conjunto. A área abrigava um estacionamento que foi remanejado, e passou a ser a entrada principal, convidando os pedestres a adentrarem a quadra e encontrarem ali um espaço público aberto.
A solução conjunta entre urbanista e poder público definiu e deu a cara do projeto com forte condição de circulação: um caminho contínuo entre a cota inferior e a cota superior, agradável e pontuado por programas de lazer. O eixo de mobilidade e circulação, marcado pelas passarelas e escadarias metálicas, todas pintadas de preto, é também o grande eixo de drenagem e infraestrutura de toda a parte alta da favela.
Os arquitetos deixaram toda a primeira linha da praça - por onde se tem acesso aos programas de lazer e ao centro comunitário - acessível à cadeira de roda e, se necessário, até mesmo a um carro de manutenção. No primeiro nível está o acesso ao edifício do centro comunitário. Seguindo em rampa chega-se à zona do anfiteatro, um garrafão de basquete e uma área de playground.
Os brinquedos aproveitam o desnível do terreno como uma qualidade do projeto - caso da parede de escalada composta no talude, feita de pedras portuguesas e cubos de concreto.
No patamar seguinte fica o piso seco com bancos, livre para o uso que os moradores acharem mais adequado. Continuando a subida, o patamar que dá acesso à quadra de esportes. Para continuar subindo, agora, apenas com a escada metálica, que vence um desnível de 17 m, desdobrando-se como uma espécie de bicho articulado.
Para acesso ao centro comunitário, criou-se também uma rua de servidão lateral, que garante o acesso de automóveis de maior porte para coleta de lixo e manutenção. O programa que o centro comunitário abrigará será definido em conjunto com uma ONG - ao que tudo indica, será um telecentro com capacidade para 35 computadores. "É um programa que animará a praça durante todo o dia: manhã, tarde e noite", diz Boldarini.
O centro comunitário é um prédio neutro para quem o vê de fora, cravado nos muros de arrimo que seguram todo o conjunto. Um dos patamares da praça é formado em sua cobertura e, por isso, não é possível identificar um volume destacado. Todos estranharam também a escolha da cor, conta Boldarini. "Você vai querer pintar de preto mesmo?!", perguntavam-lhe no canteiro de obras. Em contraposição com essa vontade de se esconder e de se mesclar com o entorno, por dentro o edifício é generoso e cheio de luz. Tem pé-direito de 5 m e fachada composta de elemento vazado, que inunda o interior com luz natural, sem a incidência de sol.
E na fachada do centro comunitário um detalhe técnico importante: para criar a fachada de quase 5 m de altura de elemento vazado foi preciso estruturá-lo com uma trama de pequenas barras de aço, dispostas de 50 cm x 50 cm, que sustentam a metade de cima do peso na laje superior para que o bloco de elemento vazado não precisasse aguentar muito esforço.
O formato desta parede em planta - um V - também tem função estrutural. Na parte interna desenhou-se um caixilho com pedaços de vidro formando um desenho geométrico, solução para baixar o custo de uma cortina de vidro piso-teto.
Tentou-se garantir o máximo de área permeável em meio aos arrimos e taludes de concreto projetado. "Até a geometria dos pisos são a resultante das obras de contenção", explica o arquiteto. O projeto teve de se ajustar constantemente às exigências das obras de contenção e de geotecnia.
O artista plástico Maurício Adnolfi fez os painéis coloridos que seguem os muros de arrimo. A intervenção foi pensada como forma de suavizar e, ao mesmo tempo, marcar a forte presença dos muros que cortam a praça de fora a fora, em três níveis. Evoluindo com as cores em tons de verde, amarelo e azul, os muros ganham vida e ritmo, alegrando o percurso.
Já o paisagista Oscar Bressane encarou o desafio de plantar sobre os taludes de concreto projetado. Imaginando a semelhança com grandes rochas, plantou bromélias sobre os taludes de concreto, criando uma amarração que permitiu fixá-las. Para o resto do conjunto foram adotadas soluções paisagísticas convencionais de forrações e uma linha de árvores de maior porte que, depois que crescerem, proporcionarão um pouco de sombra. A preocupação era não criar espaços escondidos, para que a segurança da população fosse garantida.
O projeto da praça, além de proporcionar grandes visuais para o vale do rio Pinheiros, volta-se sobre si mesmo e escancara para seus moradores a situação estética e geográfica da favela Nova Jaguaré. A possibilidade de reconhecimento do lugar em que se mora é uma análise conceitual e poética que pode ser feita desse projeto. Não é à toa que um piso seco, no formato de um olho, foi instalado no centro do conjunto, além do mirante projetado no primeiro lance da escada metálica.
A reflexão sobre a cidade que queremos deve ser feita por todos e para todos. Uma boa maneira de começar é nos observar a partir de uma nova perspectiva.

LOOKING AT THE INSIDE
The Nova Jaguaré slum project includes leisure areas and a new circulation configuration with public spaces in the sloping lot, which has 35 meters of unevenness. Lucky are the dwellers, who gained a leisure, sports and breathing space in such a densely built location. The joint solution created by the urbanists and the government defined and elaborated the project with a strong circulation condition: a continuous path between the lower and the higher levels, pleasant and punctuated by leisure programs. The mobility and circulation axis, marked by the metallic skywalks and stairways, is also the main drainage and infrastructure in the higher portion of the slum area. The community center is a neutral building for those looking from the outside, installed in the prop walls of the complex. One of the plaza's platforms is its cover and, therefore, not identifiable as a separate volume. To create the almost 5 meters high hollow elements façade, it was necessary to structure it with a web made of small steel cables, disposed at every 50 cm, supporting the top half of the weight on the top slab. The format of this wall from the top - a "V" - also has a structural function. The plaza's project had to be constantly adjusted to the large contention and geotechnical requirements - besides providing large views to the Pinheiros river valley, it returns around itself and opens to its dwellers the aesthetic and geographic situation of the Nova Jaguaré slum.


Patentes verdes tem preferência!


Patente verde poderá 'furar fila' no Brasil

Instituto Nacional da Propriedade Industrial diz que avaliará novas tecnologias limpas em prazo de até dois anos
Média para análise de pedidos de proteção intelectual no país é de mais de cinco anos, afirma instituição

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/36384-patente-verde-podera-furar-fila-no-brasil.shtml

São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2012Ciência

SABINE RIGHETTI
ENVIADA ESPECIAL AO RIO


O Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) vai priorizar, a partir de 17 de abril, o patenteamento de tecnologias consideradas "verdes", ou seja, que poluem menos ou que reduzem impactos ambientais.
A expectativa é que os pedidos de proteção para novas tecnologias nacionais mais limpas sejam analisados em até dois anos. Hoje, um pedido de patente leva em média cinco anos e quatro meses para ser analisado pelo Inpi. Até o ano passado, o processo levava até sete anos.
"Vamos acelerar porque queremos que a tecnologia limpa chegue logo à sociedade", afirma Douglas Alves Santos, pesquisador do Inpi que participou do projeto.
"Não podemos esperar seis anos para que uma solução ambiental seja aplicada no mercado", continua.

PRIMEIROS 500

De acordo com Santos, a ideia do Inpi é começar com um piloto de 500 pedidos de patentes feitos a partir de janeiro de 2011. Parte dos resultados dessas análises deve ser apresentados já na Rio+20 -a conferência da ONU para o desenvolvimento sustentável que acontece em junho, no Rio de Janeiro.
"Sabemos, por exemplo, que a maioria dos pedidos de tecnologias limpas nacionais está na produção de energia alternativa e na redução de resíduos", explica Patrícia Carvalho dos Reis, gerente do projeto do Inpi.
De acordo com ela, a definição do que é uma tecnologia "verde" teve base em metodologias de institutos de patentes de países como Estados Unidos, Austrália e Reino Unido, que já priorizam a análise de tecnologias limpas há alguns anos. Mas houve uma adaptação para o cenário brasileiro.
"Decidimos excluir, por exemplo, as tecnologias nucleares da lista de alternativas limpas", conta Reis.

À SOMBRA DE FUKUSHIMA

A decisão foi influenciada pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, no Japão, atingida por um terremoto e um tsunami em março de 2011 -quando começou o grupo de estudos do Inpi.
Já o desenvolvimento de inovações para a produção de energia hidrelétrica, eólica e solar ficou na lista das prioridades.
O instituto espera atingir essa redução no tempo de análise das tecnologias "verdes" por meio de um conjunto de estratégias.
A primeira é excluir o tempo de sigilo de 18 meses após o pedido de proteção da tecnologia. Hoje, a Lei da Propriedade Industrial, de 1996, determina que uma patente só pode ser analisada após 18 meses de sigilo.
As patentes "verdes" vão quebrar essa regra -desde que o inventor autorize que a análise seja feita imediatamente após o depósito.
O mesmo procedimento é seguido em escritórios nacionais de patentes de vários países que priorizam as tecnologias limpas. No Reino Unido, por exemplo, uma tecnologia desse tipo leva nove meses para ser analisada.
A Coreia do Sul, por sua vez, já chegou a liberar uma patente verde em 18 dias.
O Inpi também espera aumentar o seu quadro de pareceristas para acelerar o processo de análise. A expectativa é contratar 400 novos nomes até 2015.
O anúncio da priorização das patentes "sustentáveis" está marcado para hoje, quando o instituto brasileiro também deve firmar uma parceria com o EPO (Escritório Europeu de Patentes).
A intenção é que a parceria facilite o trânsito de informações entre os pedidos feitos no Brasil e na Europa por meio de tradução do português ao inglês, e vice-versa, dos pedidos.



BUROCRACIA
Pedido de patente poderá ser feito eletronicamente a partir de julho


DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO - A partir de julho, os pedidos de patente poderão ser submetidos ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) pela internet, por meio de formulários eletrônicos. Hoje, o acompanhamento da análise dos pedidos já pode ser feito eletronicamente. Mas o pedido ainda era feito totalmente no papel.
O novo formato,pela internet, batizado de e-patente, tem base no sistema eletrônico do EPO (Escritório Europeu de Patentes), que concentra escritórios de patentes de 38 países da Europa.
A ideia do Inpi, de acordo com a assessoria do instituto, é acelerar as análises. Hoje, uma patente leva em média cinco anos e quatro meses para sair do papel. Em alguns países desenvolvidos, o prazo é de cerca de dois anos.
A previsão, de acordo com Julio César Moreira, diretor de patentes do instituto, é aumentar a quantidade de depósitos de patentes em até 10% neste ano, em relação a 2011, quando foram depositados 31.924 documentos.
(SABINE RIGHETTI)