domingo, 30 de dezembro de 2012

Carona solidária


30/12/2012 - 06h00

Redes sociais já reúnem 30 mil caronistas no Estado de SP

LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO


 É fim de tarde quando quatro jovens partem em viagem de carro entre Ribeirão Preto e São Paulo. Seria apenas rotina, não fosse o fato de que nunca haviam se visto. Eles se conheceram nos dias anteriores pelo Facebook, em um grupo da rede criado para compartilhar caronas.
Se antes a prática era restrita ao boca a boca entre conhecidos, com as redes sociais a carona se disseminou, e envolve agora pessoas cujo único vínculo é a internet.
No Facebook, ao menos 25 grupos de caronas só no Estado de São Paulo reúnem cerca de 30 mil usuários.
Os maiores são os de trajetos entre cidades-sede de regiões --como São Carlos, Bauru, Campinas e Ribeirão-- e a capital. Juntos, os caroneiros dividem os custos. Há ainda sites especializados.

Edson Silva/Folhapress
Caronistas se encontram na rodovia Anhaguera, próximo a Ribeirao Preto; grupo se conheceu pelo Facebook
Caronistas se encontram na rodovia Anhaguera, próximo a Ribeirao Preto; grupo se conheceu pelo Facebook
O grupo que faz o trajeto São Paulo e São Carlos --o maior de todos-- tem pouco mais de 4.000 usuários.
A publicitária Milena Leonel, 26, mora em São Paulo e criou um dos grupos no começo deste ano para economizar nas viagens entre Ribeirão e a capital. Seu grupo tem hoje 1.400 participantes.
Nesse trajeto, o valor convencionado é de R$ 40 por pessoa --de ônibus, os usuários pagariam cerca de R$ 65.
Além da economia, eles falam em conforto e facilidade: encurtam o tempo da viagem e ainda combinam o embarque e o desembarque em pontos como estações de metrô.
Especialistas veem outros benefícios, como a redução no número de carros em circulação e até uma conscientização maior sobre trânsito.
Para o mestre em transportes Creso de Franco Peixoto, da FEI (Fundação Educacional Inaciana), ao se unirem para ações desse tipo, que independem do governo, grupos de caronas ainda dão um recado: "Mostram que há a necessidade de buscar outras soluções [para o trânsito]".
Além de universitários, há gente que busca caronas ocasionais, como para prestar vestibular, visitar parentes ou viajar a lazer para a capital.
Na última quinta, o analista de sistemas Leonardo Augusto Neves Monteiro, 27, abriu espaço em seu carro para outras três pessoas que iam de Ribeirão para São Paulo.
"Às vezes, vou com meu carro e ofereço carona, outras, pego carona. É mais barato e rápido que ônibus", diz ele, que trabalha e mora em Ribeirão, mas vai a São Paulo para ver a namorada. No carro dele, gente que viajava para aproveitar as festas de fim de ano e uma passageira que ia prestar concurso.
FICHA LIMPA
Para evitar riscos, os caroneiros têm uma espécie de manual de conduta: atrasos devem ser evitados e, por segurança, é recomendado buscar algum dado, ainda que pela internet, sobre as pessoas que vão juntas no carro.
"Mas a própria comunidade se encarrega de divulgar algo que venha a acontecer de errado ou suspeito", diz o analista de sistemas Guilherme Mourão Sansoni, 33, que oferece caronas em grupos entre São Carlos, Bebedouro e Franca, no interior.
O comando da Polícia Rodoviária em Ribeirão não recomenda carona entre desconhecidos, mas diz que não há registros de ocorrências.
A dica da corporação é compartilhar as viagens com colegas e parentes. A polícia orienta ainda que os caroneiros evitem fornecer dados pessoais --como endereços-- a desconhecidos.