terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fabricantes de cigarros deveriam pagar o caixão...


Pará


Domingo, 16/09/2012, 09h13

Tabagismo mata 200 mil por ano no Brasil



O histórico de doença respiratória na família fez com que o funcionário público Adriano Hermes, 46, parasse de fumar 60 cigarros por dia. Ele fumou durante 22 anos e há dez anos não sabe o que é colocar um cigarro na boca. Hermes vivenciou de perto as consequências provocadas pelo vício. O pai morreu em virtude de um câncer no pulmão – associado em 90% dos casos ao consumo de tabaco. O Pará registrou 41,7% dos casos da neoplasia em toda a Região Norte. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que este ano, 170 novos diagnósticos sejam realizados na capital paraense. Segundo o Hospital Ophir Loyola, 99 casos foram registrados em 2008, sendo 70 em homens e 29 em mulheres.

O número elevado dessa especificidade oncológica no Pará pode ser justificado pelas notificações da doença, quase que inexistente nos demais estados da Região Norte. O Estado possui menos de dez cirurgiões torácicos. A quantidade ainda é insuficiente em relação à população, porém, é a maior dentre os estados da Região. “Só Belém e Manaus têm profissionais que residem nos estados. Nos outros, eles têm que vir de fora e em alguns estados, nem isso”, compara o oncologista torácico Antonio Bomfim.

O câncer de pulmão não tem tido decréscimo na mortalidade. “Aproximadamente 80% dos pacientes são diagnosticados quando a doença já está localmente avançada ou em estágio metastático, quando já está espalhado”, afirma o oncologista. A chance de estar vivo em cinco anos é de 17 a 20% quando a doença está localmente avançada e de apenas 5% na fase metastática. Quando diagnosticado na fase inicial, as chances chegam a 90 e 95%.

Entretanto, o diagnóstico precoce está longe de ser uma realidade. Primeiro: as pessoas não têm o hábito de fazer exames que possam revelar a doença. “Os check-ups mais comuns são os cardiológicos, neurológicos e ginecológicos. Apesar de ser o câncer que mais mata, os exames que preveem câncer de pulmão quase não são procurados, a não ser por quem tem histórico na família”, considera Bomfim. Segundo: a doença não apresenta sintomas na fase inicial. Terceiro: “Todo fumante tem medo e prefere não ficar sabendo”, afirma um fumante de 29 anos que não quis se identificar.

Aos 14 anos o cigarro entrou na vida de Adriano Hermes. Os pais e grande parte da família fumavam. Foi um cancerologista membro da família que desconfiou dos sintomas apresentados pelo pai de Adriano, e constatou que o patriarca da família Hermes estava com câncer de pulmão. “Depois de descoberta a doença, o meu pai viveu somente três meses”, lembra.

Nesse período, Adriano já tinha parado de fumar. “Uma vez senti falta de ar e me deu um nervosismo muito grande. Fui ao hospital e fiz aerossol. Mas voltei desse aerossol fumando. Daí pensei: isso aqui não vai me matar. Então joguei o cigarro fora e a partir daí, nunca mais fumei”, conta. Largar o vício não foi fácil. “Antes disso eu já tinha tentado parar uma vez, mas tive problema de depressão forte e esse problema só veio melhorar depois que eu voltei a fumar”, afirma. Na segunda tentativa, ele foi eficaz e venceu o vício. “Eu parei sozinho. Chupava menta, bombom. Só com muita força de vontade. Vontade de viver”, diz.



Cigarros com sabor sairão do mercado

Hoje, ele comemora a mudança de vida, mesmo tendo engordado quase 40 quilos depois de largar o cigarro – fato que atribui ao sabor da comida, que passou a ser bem mais gostoso ao não ser mais misturado com a nicotina. “Não sinto falta nenhuma”, diz enfático. “Pelo contrário, quando eu vejo as pessoas fumando, me afasto. Não pela vontade de fumar, mas por ter nojo do cheiro da fumaça”. Ele lamenta que o restante dos familiares não tenham tido o mesmo êxito ao tentar parar de fumar. Até hoje a mãe dele, de 70 anos, fuma aproximadamente uma ou uma e meia carteira de cigarro. Adriano lembra que começou a fumar, entre outras coisas, por status. “A própria publicidade era atrativa, só tinha esportista fumando e eu via aquilo e achava muito interessante”.

Desde o ano 2000, a propaganda de cigarro é proibida em qualquer mídia no Brasil. Em todas as carteiras de cigarro vendidas no país, há imagens que retratam as consequências do fumo. Para uns, chocantes. Para outros, nem tanto. “A imagem não chega a influenciar tanto. Chega o tempo em que aquilo não te abala mais. Quando tu acendes o cigarro, esquece”, acredita um fumante que preferiu não se identificar.

Outra “jogada de mestre” do ramo do tabaco foi a criação de cigarros com sabor. No entanto, a retirada desse produto do mercado brasileiro foi aprovada pela Agência Vigilância Sanitária (Anvisa), em março desse ano. A retirada deve ocorrer em 2014. Segundo dados da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz – em estudo realizado com mais de 17 mil estudantes de 13 capitais brasileiras, entre os anos de 2005 e 2009 – 30,4% dos meninos e 36,5% das meninas entrevistadas afirmaram que já tinham experimentado cigarro em algum momento da vida. Entre eles, 58,2% dos meninos e 52,9% das meninas declararam preferência pelo cigarro com sabor.



HISTÓRICO DE REGULAMENTAÇÃO DO CIGARRO

1988 – A frase: “O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde” passa a ser obrigatória nas embalagens dos produtos derivados do tabaco.



1990 – Obrigatoriedade de frases de alerta em propagandas de rádio e televisão.



1996 – Comerciais de produtos derivados do tabaco só podem ser veiculados entre 21h e 06h. Além disso, fumar em locais fechados passa a ser proibido (exceto em fumódromos)



2000 – Criação da Gerência de Produtos Derivados do Tabaco, na Anvisa. Brasil é primeiro país do mundo a ter uma agência reguladora que trata do assunto.



2000- É proibida a propaganda de produtos derivados de tabaco em revistas, jornais, outdoors, televisão e rádios. Patrocínio de eventos culturais e esportivos e associar o fumo à praticas esportivas também passa a ser proíbo.

2001 - Anvisa determina teores máximos para alcatrão, nicotina e monóxido de carbono. Imagens de advertência passam a ser obrigatórias em material de propaganda e embalagens de produtos fumígenos.



2002 – É proibida a produção, comercialização, distribuição e propaganda de alimentos na forma de produtos derivados do tabaco.



2003 – Passa a ser obrigatória o uso das frases: “Venda proibida a menores de 18 anos” e “Este produto contém mais de 4.700 substâncias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substâncias”



2003 - É adotada pela Assembléia Mundial da Saúde a Convenção Quadro de Controle do Tabaco, primeiro tratado mundial de saúde pública, do qual o Brasil é signatário.



2005 – Entra em vigor a Convenção Quadro de Controle do Tabaco



2006 - Assinado decreto presidencial de ratificação da Convenção Quadro de Controle do Tabaco



2008 - Novas imagens de advertência, mais agressivas, passam a ser introduzidas nos rótulos de produtos derivados do tabaco.



2010 - Anvisa publica duas consultas públicas sobre produtos derivados do tabaco: uma prevê o fim do uso de aditivos e a outra regulamenta a propaganda desses produtos, bem como, exposição nos pontos de venda e prevê nova frase de advertências nas embalagens.



2011 – Lei Federal proíbe fumar em locais fechados e Anvisa proíbe o uso de aditivos em produtos derivados do tabaco.



Fonte: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)



EM NÚMEROS

Entre 2007 e 2010, subiu de 21 para 40 o número de marcas de cigarros com sabor, cadastradas na Anvisa.

75%

Dos entrevistados em pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha, em 2011, foram favoráveis à proibição de aditivos para reduzir a atratividade de produtos para fumar.

200 mil

Pessoas morrem todos os anos no Brasil, em virtude do tabagismo.

25 milhões

De fumantes e 26 milhões de ex-fumantes em nosso país, atualmente.
(Diário do Pará)