sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Aprendendo e ensinando sustentabilidade


Soluções para comunidades carentes

Projetos realizados em parceria pela Poli/ USP, UFSCar e MIT, buscam soluções sustentáveis para problemas cotidianos



Instalação de lâmpadas feita com garrafa PET, barreiras para contenção de enchentes com pneus, mutirão de limpeza, tampas dos poços feitas com restos de madeira de construção e plástico. Este é o universo das soluções encontradas por alunos do Laboratório de Sustentabilidade (LASSU) da Escola Politécnica (Poli) da USP, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do MIT D-Lab (Design Lab), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), para problemas de comunidades carentes brasileiras.

Pelo segundo ano consecutivo, o time formado por aproximadamente 25 alunos de diversas áreas colocou a mão na massa, entre os dias 9 e 23 de janeiro deste ano, junto a moradores de periferias de Sorocaba e Embu das Artes, na tentativa de solucionar alguns de seus problemas mais urgentes.

Divididos em três grupos em cada uma das cidades, eles tinham como objetivo desenvolver tecnologias apropriadas para o atendimento de necessidades das comunidades escolhidas, trabalhando junto aos moradores o sentido abrangente do princípio da sustentabilidade, um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais globais.
Orientados pela professora Tereza Cristina Carvalho, coordenadora do LASSU, os alunos e pesquisadores implementaram essas ações utilizando materiais de baixo custo e recicláveis, facilmente encontrados na comunidade, como pneus velhos, plástico PVC, madeiras, baldes e canos.

Mão na massa

Em Embu das Artes, os alunos se dividiram entre três ações. A primeira foi “entretenimento”. Após a análise inicial da área, o grupo identificou a necessidade de um centro cultural que reunisse crianças da região, acostumadas normalmente as brincadeiras de rua em regiões afastadas de onde moravam. Com um espaço cedido por uma ONG local, recursos vindos de uma cooperativa (Copermape), além da ajuda entidades religiosas e de um vereador da região, a equipe montou em apenas uma semana um espaço com biblioteca e brinquedoteca, abrindo também uma pequena sala para a prática de artesanato e para o recebimento futuro de computadores.

O segundo projeto foi ligado a “iluminação”. Sabendo que a comunidade não tinha acesso oficial a energia elétrica, o coletivo de estudantes, encabeçado por Vinícius Romero, de engenharia industrial e Bruno Rossener, engenharia de produção, ambos da UFSCar, entendeu que deveria convencer a população de que utilizar o projeto pioneiro – implementado originalmente nas Filipinas – de garrafas plásticas usadas para captar a luz natural do Sol era “um exemplo a ser seguido por essa e outras comunidades”, revela Romero.

A ideia era simples: com materiais como placas de metal, misturas para vedação, garrafas pet, água e cloro seria possível iluminar ambientes sem a necessidade de eletricidade. Um furo deveria ser feito nas telhas para que a garrafa fosse encaixada e a luz do sol, refletida na mistura líquida seria suficiente para iluminar espaços pequenos com poucas janelas. Com a formulação de um panfleto sobre como a técnica poderia ser praticada pelos próprios moradores, os alunos solucionaram com criatividade parte do problema dos habitantes de Embu.

A terceira iniciativa foi em relação à drenagem. Com a intenção original de resolver a situação precária do piso das casas da região, os alunos André Mitsuoka, do curso de Ciência da Computação da UFSCar e Amelia Carver, estudante de graduação de Música e Composição no MIT, perceberam que nem sempre é possível atender às próprias expectativas durante o trabalho de campo.

Com a ajuda dos colegas, a dupla formulou em sete dias um sistema de tubulações capaz de drenar a água dos pisos irreparáveis. “Era preciso pensar num jeito de jogar aquela água para fora das casas, num só lugar”, explica Amelia. Interconectado, o sistema de tubulações feito com a ajuda da comunidade e materiais disponíveis atenuou o problema das enchentes que assolavam os moradores dentro de suas próprias casas.

Novo Mundo

Na periferia de Sorocaba, no bairro Novo Mundo, outros grupos utilizaram sua criatividade coletiva em três empreendimentos. A insegurança do caminho pelo qual alunos do ensino fundamental e médio tinham que transitar para chegar a escola foi encarada como prioritária.
O aluno de Ciência da Computação na UFSCar, André Bonfatti, avaliou a necessidade de iluminação adequada e de limpeza da pequena passarela de terra que ficava intransitável em dias de chuva forte. Cavando um desvio calculado para água com a ajuda de crianças e adolescentes locais, o grupo conseguiu abrir caminho até a escola e garantir maior segurança para todos os que por ali passavam diariamente. Orientando os jovens voluntários sobre como fazer a manutenção da área, inclusive plantando grama nas margens do caminho para absorver o excesso de água, o grupo concluiu seu trabalho consciente de que havia muito a ser feito ainda.

O segundo projeto foi ligado a habitação. O crescente problema de enchentes não era apenas uma preocupação em Embu das Artes. Reduzir seus danos envolveria um trabalho conjunto dos alunos em duas frentes. A primeira envolvia diretamente habitação, pois exigia criar uma barreira física que impedisse córrego, que corria por entre as casas, de vazar e inundar as ruas. Com materiais do próprio entorno, os alunos de engenharia formularam uma maneira simples de elevar a terra ao redor do córrego. Com pedaços de bambu fincados na terra e pneus preenchidos com terra molhada, ergueu-se uma barreira que, atestadamente, foi capaz de proteger os moradores do avanço da água num dia de chuva forte.

A outra vertente foi o saneamento. Para que a barreira de pneus, bambu e terra funcionasse, seria necessário envolver a população num grande ato de limpeza das margens do córrego. A partir desse gesto, a comunidade pôde discutir a criação de uma associação de moradores para articular seus próprios interesses junto às instâncias políticas e econômicas de Novo Mundo. Entre o debate, a limpeza e a edificação da barreira, tanto os moradores quanto os estudantes puderam atribuir um novo significado à noção de engajamento que tinham antes da experiência.
Com a esperança de continuar o projeto pelo terceiro ano, em 2013, a professora Tereza Cristina Carvalho, coordenadora do LASSU, acredita que o envolvimento de mais alunos de diversas universidades e da própria USP deve criar uma rede de parcerias cada vez mais sólida, para continuar disseminando práticas sustentáveis efetivas.