sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Ministro diz que 'morrerão pessoas' devido às chuvas neste verão


16/12/2011 - 07h56

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1022203-ministro-diz-que-morrerao-pessoas-devido-as-chuvas-neste-verao.shtml

DE BRASÍLIA


Atualizado às 08h08.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, afirmou ontem no Senado que o governo não tem como impedir mortes nesta temporada de chuvas por conta de deslizamentos em enchentes. "Morrerão pessoas neste verão. E nos próximos".
Segundo o ministro, o país não terá um sistema capaz de "impedir vítimas" mesmo que o Cemaden (Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), prometido para novembro, comece a funcionar 24 horas por dia, o que ainda não aconteceu.
"O que nós estamos fazendo é diminuir o impacto dos extremos climáticos que estão se agravando."
Mercadante afirmou que o país está atrasado no mapeamento de áreas sob risco de desastres naturais nos municípios. Essa informação é crucial para que o Cemaden, o centro que o governo está montando para produzir alertas de desastre a tempo de salvar vidas, possa fazer previsões de qualidade.
"Não queremos criar qualquer tipo de ilusão. Não há como impedir especialmente deslizamentos, em que temos entre duas e seis horas para tirar uma comunidade, uma favela, um bairro inteiro. Não temos tradição, não temos estrutura, não temos mobilidade para isso."
Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Móveis são danificados após transbordamento de córrego durante as chuvas em São Caetano do Sul, em SP
Móveis são danificados após transbordamento de córrego durante as chuvas em São Caetano do Sul, em SP
A principal dificuldade é a falta de geólogos para fazer levantamentos das áreas de risco nos municípios. De 251 cidades críticas, apenas 56 têm mapeamentos geológicos --e nem todas elas na escala necessária ao trabalho do sistema de alerta. Apenas 35 estão na base de dados do Cemaden hoje.
Mercadante afirmou que nenhum geólogo apareceu no concurso do Cemaden. Segundo ele, esses profissionais são todos absorvidos pelo setor de mineração e petróleo. "Paga melhor, imagina subir morro para ver pobre em áreas de deslizamento. Não há como competir."
Outro problema apontado pelo ministro é a precariedade da Defesa Civil em vários Estados, com exceções como a de Santa Catarina, que melhorou seu sistema depois da tragédia de 2008. "Houve um salto de qualidade, mas a situação da Defesa Civil é muito heterogênea."
Enquanto Mercadante falava no Senado ontem, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, dizia que o sistema de defesa civil do país está mais preparado do que no passado para evitar mortes.
Ele disse que o governo investiu neste ano R$ 132 milhões em drenagem e R$ 120 milhões em barragens e contenção de encostas, e que realizou simulados de preparação de desastres em 12 cidades.
Bezerra disse, porém, que a preparação não cabe só ao governo federal. "É preciso envolvimento dos governos estaduais, dos municípios e também do Congresso."
Flávio Neves/Folhapress
Homens trabalham no resgate de vítima após deslizamento no morro da Mariquinha, em Florianópolis, em SC
Homens trabalham no resgate de vítima após deslizamento no morro da Mariquinha, em Florianópolis, em SC
MAIS CHUVA
A chuva voltou a causar estragos ontem em Minas Gerais, que registrou alagamentos e desabamentos em Belo Horizonte e região metropolitana.
No Rio Grande do Sul, o dia foi de reparos em São Jerônimo, Triunfo, Fazenda Nova e Caxias do Sul, atingidas por chuva de granizo na quarta.
Em São Paulo, a chuva ocorrida na madrugada de ontem provocou alagamentos, quedas de árvores e problemas em semáforos. Um desabamento de casa deixou quatro pessoas feridas.
Colaborou JEAN-PHILIP STRUCK, de São Paulo