domingo, 13 de março de 2011

Tragédia ambiental 3: Explosão em Fukushima põe na berlinda modelo de usinas do Japão. E no Brasil?

TRAGÉDIA DO JAPÃO



Explosão põe na berlinda modelo de usinas do país



Planta de Fukushima deveria ter sido capaz de suportar terremotos



Crédito: Folha de S. Paulo mundo A15 - 13/03/2011


Japão possui rede de 55 reatores nucleares em 17 usinas, que responde por 36% da energia consumida



Autoria: SABINE RIGHETTI

DE SÃO PAULO



O Japão tem 55 reatores nucleares que funcionam em 17 usinas distribuídas pelo país. Juntas, elas geram 36% de toda a energia consumida pelos japoneses.

Mas, de acordo com um dos principais especialistas do Brasil em energia nuclear, a explosão da usina de Fukushima 1 deixou a segurança nuclear -do Japão e do do mundo- na berlinda.

"A usina Fukushima 1 deveria suportar terremotos e tsunamis", diz o engenheiro Aquilino Senra Martinez, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"Ela ficou em pé com um terremoto muito intenso, de escala Richter 8,9, mas não suportou o tsunami na sequência", completa.

A central de usinas nucleares composta por Fukushima 1 e 2 fica a cerca de 250 km da capital Tóquio, em uma das regiões mais afetadas pelos tremores de sexta-feira.

Ao todo, 11 usinas japonesas estão nas regiões atingidas pelos sismos.

De acordo com Martinez, é provável que tenha havido uma falha no sistema de esfriamento do reator de Fukushima 1 por causa da água do tsunami.

Com o terremoto, o trabalho da usina foi interrompido automaticamente.

Mas o reator, assim como o motor de um carro que estava em movimento, precisa ser esfriado -o que deveria ser feito por um sistema de energia alternativa que falhou ao ser atingido pelo tsunami (veja o infográfico).

A usina se transformou numa espécie de bomba-relógio. "Por isso, houve o superaquecimento do reator e a posterior explosão [no sábado de manhã, horário de Brasília]", explica Martinez.

Antes do acidente, vapores com material radioativo de alto risco-incluindo césio- já estavam sendo liberado para o meio ambiente como uma tentativa de reduzir a pressão excessiva no reator da central nuclear.



RISCOS

O Japão ainda não divulgou informações sobre a quantidade de material radioativo que escapou com a explosão de Fukushima 1.

De acordo com o especialista da UFRJ, a avaliação poderá ser feita a partir do momento que o acidente for definitivamente interrompido.

"Nos próximos dias, deverá ser feito um mapeamento do local da usina, com análise de solo e de água, para que se verifique o tamanho do estrago", diz Martinez.

Isso deve levar de dez a 15 dias, aproximadamente.

Desde o acidente de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986, existe um sistema de acompanhando em tempo real das situações de risco nuclear.

"Em Tchernobil, houve uma lentidão até que as autoridades divulgassem o vazamento", diz Martinez.

Com isso, morreram de imediato 50 pessoas e houve um aumento de 4.000 casos de câncer nas redondezas.



SOB "SUSPEITA"

A Fukushima 1 fica num complexo nuclear que é bastante ativo no Japão.

Ao todo, três reatores estavam em funcionamento na região quando aconteceu o terremoto de sexta-feira.

Apesar de ter aguentado a intensidade do tremor, a estrutura da usina pode estar ultrapassada.

De acordo com Martinez, o projeto da Fukushima 1 é antigo, da década de 1960.

"O acidente que aconteceu no Japão vai fazer todo mundo repensar o uso de usinas nucleares", analisa o especialista da UFRJ.

Hoje, os EUA são o país com maior número de usinas nucleares: são 104 no total. Isso representa 18% da matriz energética daquele país.

A França está no topo do países com maior dependência desse tipo de energia: 80% da matriz é nuclear.

No Brasil, o uso de energia nuclear não chega a 3% do total que é consumido.


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A consideração dos terremotos nas usinas nucleares

[ 11/03/2011 ]



Um forte abalo sísmico atingiu o Nordeste do Japão nesta sexta-feira (11 de março, às 02h46 da madrugada, horário de Brasília), com magnitude 8,9 na escala Richter e epicentro no oceano, a aproximadamente 130 km da cidade litorânea Sendai.



Como conseqüências do evento, 11 das 27 usinas nucleares japonesas na região afetada foram desligadas automaticamente e, até o momento, não há notícias de vazamento radioativo para o meio ambiente.



O terremoto suscita questionamentos sobre os efeitos de um sismo nas proximidades das usinas brasileiras, em Angra dos Reis (RJ). Uma comparação direta entre as situações brasileira e japonesa não é adequada, pois enquanto o Japão está situado em uma região de alta sismicidade - causada pela proximidade da borda de placa tectônica, onde ocorrem cerca de 99% dos grandes terremotos -, o Brasil está em uma região de baixa sismicidade, em centro de placa tectônica.



Confira, abaixo, as respostas para algumas dúvidas mais frequentes:





O projeto estrutural das usinas de Angra leva em consideração a possível ocorrência de um abalo sísmico?

As usinas nucleares de Angra dos Reis foram projetadas para resistir a vários tipos de acidentes. Mesmo estando numa região com probabilidade muito baixa de ocorrência de eventos sísmicos, o projeto das usinas de Angra, entre outros acidentes externos considerados, leva em conta o maior terremoto que poderia ocorrer no sítio. O prédio onde fica o reator nuclear tem barreiras de concreto e de aço dimensionadas para resistir a esses tipos de evento. Diversos sistemas garantem, de forma segura, o desligamento das usinas após qualquer abalo que atinja as especificações consideradas no seu projeto.

O projeto se baseia em normas de segurança internacionais, que consideram uma aceleração horizontal na rocha de 0.10 g (aceleração da gravidade, g=10m/s2). Especialistas da PUC/RJ e do Instituto de Astronomia e Geofísica da USP (IAG/USP) estimaram que a probabilidade de ocorrência de um abalo dessa proporção na Central Nuclear é de uma a cada 50 mil anos.

O maior terremoto registrado na região Sudeste, nas últimas décadas, ocorreu em 22 de abril de 2008, atingiu 5,2 graus na escala Richter e teve seu epicentro no Oceano Atlântico, a 215 km da cidade de São Vicente, no litoral paulista, e a 315 km da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). O nível das acelerações registrado na Estação Sismográfica de Angra dos Reis foi de 0,0017 g, (2% do valor de projeto), e inferior ao nível mínimo acima do qual passaria a ser registrado na instrumentação sísmica das próprias usinas (0,01 g).





Existe um monitoramento sísmico nas usinas?



A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) possui uma Estação Sismográfica equipada com aparelhos modernos que monitoram, identificam e analisam os eventos sísmicos locais e regionais. Essa Estação opera desde 2002, monitorando continuamente qualquer vibração no sítio das usinas e registrando todos os eventos. Ela permite determinar o epicentro, a magnitude e as demais características de qualquer evento sísmico, além de indicar o nível de aceleração na região da Central Nuclear. Esses registros, aliados aos catálogos sísmicos disponíveis, confirmam a baixa sismicidade da região de Angra.

Além disso, cada usina possui instrumentação sísmica própria e independente para monitoramento dessas acelerações. Caso ocorra um abalo que ultrapasse 10% das acelerações estimadas no projeto, um alarme é disparado na sala de controle onde sua intensidade pode ser identificada imediatamente. Nesse caso, os valores de aceleração são analisados para calcular seu impacto na Usina. Se as acelerações atingirem 50% dos valores de projeto, a Usina deve ser inspecionada para verificar a existência de algum dano.





Qual a possibilidade de um tsunami (maremoto) atingir o litoral brasileiro na região Sudeste?



Um evento desta natureza é provocado na maioria das vezes em decorrência de um abalo sísmico de grande magnitude (superior a 7.0) no mar, em que o foco esteja pouco profundo e em regiões de borda de placas tectônicas que se movem uma em direção à outra, gerando ondas que podem alcançar grande amplitude nas regiões costeiras próximas. Este fenômeno é o que ocorreu em várias ocasiões no Pacífico e no episódio do Japão de 11 de março de 2011.

A região Sudeste do litoral brasileiro está situada na placa tectônica Sul-Americana, que se afasta da placa tectônica Africana. Portanto, no oceano Atlântico Sul, não existem as condições necessárias para gerar os tsunamis (maremotos).





 

Vídeos: Memória do Acidente Nuclear de Chernobyl

Autor: w1TenMinutes